Como está a sua saúde mental?

#DescriçãoDaImagem: Retângulo laranja e sobre ele está a representação de uma cabeça focando na nuca, ela é toda preta e tem linhas laranja e uma mão pegando nessa linha. Fim da descrição. Foto: Segredos do Mundo / Divulgação.

Essa pergunta é, cada vez mais comum, pois nossa sociedade tem dados sinais de que precisamos rever questões importantes para a nossa saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) nos últimos seis anos a taxa de suicídio no Brasil cresceu 7% já no restante do mundo a queda chegou a 9,8%. No entanto, é preciso colocar as pessoas com deficiência nesses dados, e as poucas pesquisas e a dificuldade no levantamento de informações não nos dão um cenário sobre a pessoa com deficiência com clareza. Um dado de 2017, do Ministério da Saúde ocorreram 12.637 casos de tentativas de suicídio envolvendo pessoas com deficiência, sendo que 25,5% eram mulheres e 27,7% eram homens.

Porém, não podemos definir a saúde mental apenas por dados ligados ao suicídio, pois ela afeta e se manifesta de outras formas. Sedentarismo, cansaço, irritabilidade, culpa, negatividade, arrependimento e vícios podem indicar sintomas de saúde mental. E se aplicarmos isso ao universo da pessoa com deficiência podemos acrescentar a falta de acessibilidade, dificuldades de relacionamentos e ausência de oportunidades.

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Para entender mais sobre esse assunto conversamos com a Karla Luis formada em Psicologia. Servidora e psicóloga do Instituto Federal de Educação de Santa Catarina (IFSC) e mulher com deficiência.

Segundo ela, o primeiro passo para entender o universo da pessoa com deficiência é, entender que antes de tudo somos pessoas “é importante dizer, primeiramente, que pessoas com deficiência são, sobretudo, pessoas. Então sentimos e somos afetadas da mesma maneira que pessoas sem deficiência também são por diversos motivos. Estamos vivendo tempos difíceis de um modo geral e, claro, isso também pode afetar pessoas com deficiência.” Explica.

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Outro ponto abordado é a questão da capacidade da pessoa com deficiência, ou seja, o quanto ser rotulado de “incapaz” ou “herói” pode afetar a saúde mental, sobre isso Karla diz que pesquisas sobre a saúde mental da pessoa com deficiência são bastante escassas. Segundo ela “algumas deficiências podem acarretar ou serem uma condição preponderante para o aparecimento de algum transtorno mental associado, como a deficiência intelectual, por exemplo. Mas isso não é uma regra.” Comenta.

E alerta sobre a questão familiar, pois às vezes a conduta da família em relação a pessoa com deficiência pode ocasionar uma doença mental. “É importante lembrar que, muitas vezes, a deficiência em si não está, necessariamente, associada a algum transtorno mental, mas sim as consequências do modo como a família e a sociedade lidam com a deficiência de alguém. Essas variáveis também impactam no modo como a própria pessoa cria (ou não) recursos emocionais para lidar com a sua condição e com as questões da vida em geral.” Avalia.

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Outro ponto importante para considerar as questões da saúde mental é observar, debater, discutir as questões do capacitismo “proponho que façamos essa discussão pela via do capacitismo: precisamos enfatizar o quanto que ele produz a ideia de que a deficiência é uma tragédia, que inclusive pode induzir as pessoas sem deficiência acharem a priori que a vida das pessoas com deficiência não é passível de ser vivida de forma digna, ordinária e feliz. As inúmeras barreiras que as pessoas com deficiência enfrentam no cotidiano possuem implicações na vida delas. É urgente pensarmos sobre os efeitos do capacitismo na vida de todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência, e os efeitos que o capacitismo produz na subjetividade.” Salienta.

Além disso, outros fatores são preponderantes para a ocorrência de problemas ligados a saúde mental. Segundo Karla, “questões ligadas à falta de acessibilidade, empregabilidade e visibilidade podem afetar a saúde mental das pessoas com deficiência. É importante ressaltar que toda forma de capacitismo pode gerar consequências emocionais para/em pessoas com deficiência.  É claro que, cada pessoa possui um modo muito subjetivo de lidar com as adversidades que a vida impõe, mas fatores excludentes são sempre um risco a mais para desencadear problemas de ordem emocional.” Explica.

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Toda doença tem sintomas, e na questão mental não é diferente, Karla alerta que esses sintomas variam de pessoa para pessoa “as pessoas pedem socorro de diversas formas. Nem sempre um pedido de ajuda será dito clara e objetivamente. Então é bom estarmos atentos para mudanças comportamentais também (isolamento, irritabilidade, ou qualquer coisa que destoe do comportamento daquela pessoa). A melhor solução é sempre procurar os profissionais adequados para tratar da saúde mental: psicólogos e psiquiatras.” Afirma.

Para finalizar Karla deixou algumas dicas que podem ajudar a pessoa com deficiência que está passando por um momento difícil, mas lembre-se que qualquer sinal desses sintomas indicam que você precisa buscar um psicólogo ou psiquiatra. “Penso que existem fatores coletivos e individuais que podem nos ajudar a ter uma vida mental mais saudável. Nos fatores coletivos, com base nos estudos contemporâneos de saúde mental na perspectiva qualitativa, é necessário promover saúde e qualidade de vida. O capacitismo é um desses fatores e produz como efeito uma busca constante para estarmos dentro de um padrão corporal e funcional. Quanto mais capacitista for uma sociedade, mais sofrimento ela poderá produzir. Enquanto a sociedade vai se transformando no caminho da equidade, precisamos focar nas coisas que nos fazem bem e aí estão os fatores individuais. Conhecer a si mesmo e procurar fazer as coisas que gosta, ter planos e objetivos de vida, é fundamental para ter saúde mental.” Finaliza.

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Sobre a entrevistada:

#DescriçãoDaImagem: Na foto está Karla, uma mulher com deficiência, de pele branca, cabelos pretos longos. Ela está maquiada e com um batom em tons de rosa e está sorrindo. Fim da descrição.

Karla Garcia Luiz, tem 35 anos, é formada em Psicologia. Servidora e psicóloga do Instituto Federal de Educação de Santa Catarina (IFSC) – campus São José. Tem mestrado em Psicologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e está fazendo doutorado nessa mesma área, também na UFSC. Além disso, faço parte do Núcleo de Estudos sobre Deficiência (NED) da UFSC e do Coletivo Feminista Hellen Keller de Mulheres com Deficiência. É mulher com deficiência física, pesquisadora e ativista dos Estudos sobre Deficiência.

Contatos:

karla.garcia.luiz@hotmail.com

/karla.garcia.luiz

@karla_garcia_luiz

Publicado por Deficiência em Foco

Espaço destinado para informações, discussões e pesquisas sobre todos os tipos de deficiências.

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