O cão-guia e a possibilidade da autonomia a pessoa com deficiência visual

#DescriçãoDaImagem: Foto com um fundo desfocado, em destaque está Kira cão-guia treinada no Instituto Magnus. Ela é uma Labradora caramelo e está usando uma guia amarela. Fim da descrição. Foto: Divulgação / Instituto Magnus.

Inclusão, acessibilidade e autonomia são temas corriqueiros por aqui. Sempre buscamos formas de responder questões, mostrar caminhos e até mesmo contar boas histórias. E o cão-guia sempre fez parte desse universo, seja nos posts no Facebook ou Instagram ou perguntas corriqueiras sobre esse nobre trabalho.

A história dos cães-guia é antiga e existem relatos de que desde a Idade Média, os cães vêm ajudando o homem a se locomover. O ofício de treinar cães para guiar pessoas cegas ou com deficiência visual teve início em 1780 no hospital para cegos Les Quize-Vingts. Desde então a técnica vem se aprimorando para proporcionar qualidade de vida ao usuário e ao animal.

Para entender mais sobre esse universo, conversamos com a Janaina Teixeira, coordenadora de relacionamento do Instituto Magnus, local que vem se tornado referência no treinamento de cães-guia.

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O Instituto

O Instituto Magnus é uma idealização do Grupo Adimax que produz alimentos para cães e gatos. Janaina conta que tudo começou quando o empresário responsável pelo grupo recebeu um convite para patrocinar um cão que estava sendo treinado para ser cão-guia “ele procurou a saber mais sobre cães-guia, e ai ele se deparou com mais de 6,5 milhões de pessoas com alguma deficiência visual e nem 200 cães para trabalhar e ajudar essas pessoas. Daí que surgiu a ideia da instituição para treinar cães em 2015, mas só em 2018 ele foi inaugurado.” Explica.

O Instituto fica localizado em Salto de Pirapora/SP, e conta com uma estrutura completa para atender os cães e seus futuros usuários “temos vários prédios, como a maternidade para atender as fêmeas prenhas. Lá eles já são estimulados para o treinamento. A partir disso ele é avaliado para ver se tem potencial para se tornar cão-guia.” Relata.

Além do trabalho com cães-guia, o Instituto atende diversas outras necessidades da comunidade, sendo que o mesmo é uma entidade sem fins lucrativos.

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Raças, treinamento e período

Entre as dúvidas mais comuns estão os tipos de cães, Janaína conta que no mundo existem mais de 30 raças que podem ser cães-guia, porém, o Instituto só trabalha com Labrador e Golden Retriever.

O tempo de treinamento varia e já começa com estímulos desde o nascimento, e pode durar de 1,6 até 2 anos, sendo que ele fica entre 1 e 1,2 ano com uma família socializadora, de três a cinco meses em trabalhos no Instituto, depois um mês em treinamento com o usuário.

Janaína explica que cada etapa é fundamental para que o cão possa desenvolver suas habilidades “com 70 dias, a gente procura uma família socializadora, para receber o filhote em casa, sob orientação do Instituto para ensiná-lo obediência básica, visitar diferentes ambientes.” Já após um ano o treinamento passa a ser mais específico “eles voltam para o Instituto para receber o treinamento de guia. Para aprender a guiar uma pessoa com deficiência visual. Ele dura de 3 a 6 meses. Nesse período a gente procura uma pessoa que seja compatível com o cachorro.” Conta.

#DescriçãoDaImagem: Na foto está um gramado, e sobre ele está um filhote de Labrador caramelo, ele está usando um colete de treinamento. Fim da descrição. Foto: Internet/Divulgação.

Essa compatibilidade é fundamental para o processo “se o cachorro anda rápido a pessoa também deverá andar, se for mais brincalhão, e se tiver mais energia, procuramos a pessoa que tenha uma personalidade parecida com a do cão.” Explica.

Na última etapa os dois são treinados pelo Instituto “para se adaptarem durante 30 dias, 15 no hotel e 15 na rotina da pessoa, tudo monitorado. Depois disso, acompanhamos mensais, trimestrais e anuais até a aposentadoria do cachorro.” Relata.

Outro ponto destacado por Janaína foi o cuidado com o bem-estar animal “prezamos pelo bem-estar animal, com ambiente climatizado, locais preparados e acompanhamento diário”. Completa.

Os cães-guia trabalham na função num período entre 8 e 10 anos. Após a aposentadoria geralmente os animais permanecem com seus tutores, como animal de estimação.

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Dicas ao encontrar um cão-guia

Já falamos sobre isso em um post, mas a Janaína nos ajuda a reforçar a questão. Segundo ela, basicamente as pessoas não devem interagir com o cão, pois ele está focado no trabalho, e qualquer desatenção pode causar risco a pessoa que está sendo guiada.

#DescriçãoDaImagem: Na foto está em destaque um cão-guia da raça Labrador na cor caramelo. Ao lado dele está uma representação de uma pessoa com deficiência visual com a bengala e segurando a guia. Fim da descrição. Foto: Internet/Divulgação.

Entre outras coisas ela destaca também que o cão não deve ser alimentado e que tem acesso livre a vários ambientes conforme determina a Lei 11.126/2005 “se está identificado ele tem garantia de acesso (sempre usa o arreio, o usuário tem um crachá, e cão também, além da carteira de vacinação) e o colete, para que o cachorro saiba diferenciar o momento de trabalho e de descanso.” Explica. Além disso, o cão em treinamento tem os mesmos direitos “o cão-guia tem os mesmos direitos dos cães formados, ou seja, pode adentrar qualquer ambiente”. Completa.

Regras para ter um cão-guia

O Instituto Magnus disponibiliza o site para a inscrição no qual o pretendente irá responder um questionário, dizendo os motivos para ter um cão-guia, estão entre os critérios uma rotina que justifique a utilização, orientação e mobilidade e que preferencialmente o usuário resida até 150 km a partir do Instituto, pois esse é o raio de ação da instituição. No entanto, outras pessoas podem se inscrever também. E cabe ressaltar que quem já tem um cão-guia tem prioridade na aquisição de outro.

Cães-guia no Brasil

A falta de incentivos ainda impossibilita que a maioria das pessoas cegas ou com deficiência visual tenham acesso ao cão-guia. Estima-se que existam hoje pouco mais de 200 animais treinados para a função. Um cão-guia treinado custa entre R$ 35 e R$ 70 mil.

Esse valor inviabiliza a aquisição pela maioria das pessoas visto que na sua grande maioria as pessoas com deficiência são de baixo poder aquisitivo. Isso implica na necessidade de termos uma política pública que possibilite a popularização e aquisição desses animais, visto que isso, possibilitaria maior autonomia e melhora na condição social e econômica da pessoa com deficiência.

E pensando nisso tramita na Câmara dos Deputados o projeto de Lei n° 4052/2019, da deputada Flordelis (PSD/RJ), que visa deduzir do Imposto de Renda doações para centro de treinamento de cães-guias.

Publicado por Deficiência em Foco

Espaço destinado para informações, discussões e pesquisas sobre todos os tipos de deficiências.

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