Tire a máscara da superação

#DescriçãoDaImagem: Quadro com um fundo preto, e uma mulher desfocada, a mão direita dela está no plano detalhe segurando uma máscara. A foto toda está em preto e branco. Fim da descrição.

Você pessoa com deficiência ou que convive com uma, já deve ter visto e ouvido muitas vezes que você ou ele são um “exemplo de superação”, “anjos” ou simplesmente “pessoas que vieram ao mundo para nos ensinar que sempre há alguém numa condição pior e, por isso, você deve ser grato a sua vida”. Isso até pode ser comum no circulo familiar e de amigos, e nós mesmo enquanto pessoas com deficiência podemos combater esses discursos.

No entanto, esse discurso se torna perigoso quando a mídia se apropria do mesmo, visto que é muito comum matérias jornalísticas com o estigma da “superação”. E o que quero aqui é mostrar que apesar de bonito, emocionante e até encorajador esse discurso exclui, segrega, esconde e, principalmente, evita que tenhamos uma visão crítica sobre a sociedade e que sejam feitos questionamentos diante das condições dadas para nós pessoas com deficiência.

Quando uma pessoa em cadeira de rodas vira “exemplo de superação” por sair de casa, pegar um ônibus ou trabalhar, o discurso (superação) passa a ser emocional “o vitorioso”, o “herói”, no entanto, ao invés disso o correto seria usar essa oportunidade para questionar as autoridades sobre a garantia de direitos básicos como acessibilidade e ir e vir.

Assim é na vida acadêmica, sexual, trabalho e qualquer esfera social ou profissional em que uma pessoa com deficiência esteja presente. O discurso de “superação” é uma cortina de fumaça, que assim como coloca as pessoas com deficiência como “heróis” pode na mesma proporção coloca-las como “vítimas” e ocasionando a exclusão.

Desta forma o discurso de “superação” ou joga para cima através do “heroísmo” ou enterra pelo “coitadismo”. Agora imagine você que não tem deficiência, que não convive com uma pessoa com deficiência, ou mais se você é um empresário que precisa cumprir a Lei de Cotas, complicado, né? Esse tipo de jornalismo raso e caça-like atrapalha a inclusão e faz um papel caricato na hora de trabalhar a pauta da pessoa com deficiência.

O caminho? É longo e complexo e começa com o entendimento dessas ideias capacitistas e que classificam as pessoas com deficiência como pessoas a parte da esfera social, quando na verdade somos parte da mesma esfera como qualquer pessoa.

Cada vez que se escreve um texto, se diz uma frase ou se tem um gesto em nome da “superação”, você, eu e muitos outros estamos sendo desrespeitados e colocados em segundo plano. Assim como critico o uso exagerado do termo PCD, faço aqui o mesmo para o estigma da “superação”, pois não precisamos ser heróis, exemplos, seres divinos ou de outro planeta. Somos cidadãos conscientes de nossos direitos e juntos podemos e vamos lutar por eles.

Por isso, tire a máscara da superação e vá à luta.

Publicado por Deficiência em Foco

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